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The Ides of March

Ano: 2011

Realizador: George Clooney

Actores principais: Ryan Gosling, George Clooney, Philip Seymour Hoffman

Duração: 101 min

Crítica: ‘The Ides of March’ é um drama político ligeiro sobre a corrupção e a perda da inocência. Chamo-lhe ‘ligeiro’ porque o filme não mostra nada de novo, nada de surpreendente, e aliás nem um clímax tem. Há uma linha narrativa, há uma acção que a interrompe, e a personagem principal gera uma reacção. E eis que o filme termina. E o espectador fica aonde? Teve uns cheirinhos dos bastidores da política. O choque não foi brutal, não foi acutilante, nem incisivo. Quiçá foi realista. Mas uma coisa foi, altamente cinematográfico. Ou melhor, Hollywoodesco.

Ryan Gosling interpreta um jovem gerente de campanha de um dos candidatos democratas para as primárias; nenhum outro senão George Clooney, um congressista reputado pela sua integridade. Aliás, Gosling é um homem de ideais, que realmente vê em Clooney a salvação para os males da América. Já Philip Seymour Hoffman, o seu superior, é um animal muito mais político, tal como Paul Giamatti, que interpreta o seu homólogo do candidato concorrente. A questão central do filme prende-se com os votos do estado de Ohio, decisivos para a eleição final. Clooney aparentemente não cede a chantagens nem quer jogar sujo, e Gosling mais o admira por isso.

Contudo, quando Gosling começa a andar com a jovem estagiária, interpretada pela vibrante Evan Rachel Wood, e descobre que esta já teve um caso com Clooney, então este é o ponto de partida para o desfiar do novelo. Já nada é o que parece, e a teia começa a acercar-se de Gosling e a apertá-lo. Para sobreviver na política, terá de perder a inocência, e transformar-se num animal sem sentimentos, capaz da traição e da intriga, independentemente daquilo que possa acontecer àqueles que lhe são mais próximos.

Assim descrito, o filme está-me a parecer muito mais interessante do que o foi numa sala de cinema em Aveiro algures em Novembro de 2011. As surpresas, como disse, são poucas. Mais cedo ou mais tarde, por tão ‘bonzinhos’ que possam parecer no início, todos querem ganhar, a qualquer preço. Desde os jornalistas (centralizados em Marisa Tomei, sempre excelente), aos políticos, aos angariadores de votos, ao próprio Gosling, as suas reacções são previsíveis. O filme ganha interesse e ritmo aquando do primeiro desequilíbrio da ordem natural (até lá segue a sequência clássica dos filmes sobre políticos e campanhas políticas), mas depois a contra-reacção da personagem principal ao ‘dilema’ é simples, e o filme fecha sem ter dado um clímax, ou ter aumentado ou intensificado o tom da perda da inocência de uma alma outrora pura. Dá-o como um dado adquirido. A cara de Gosling expressa essa perda, mas o filme não. Se pensarmos bem sobre o assunto, nem é tanto um problema de argumento. É mais de realização. Mas quem é que disse que Clooney sabia realizar filmes?

O filme é ostensivamente sobre a corrupção na política, de todas as esferas, de cima abaixo na hierarquia. Sim senhor, mas não teria tido muito mais impacto se fosse apenas focado num único homem, se se debruçasse sobre a sua ascensão e queda emocional? No início parecia que ia seguir esse trilho, e a figura de Clooney quase não existia, centrando-se o filme somente em Gosling. Quanto mais poderoso não seria o filme, se se passasse sempre nos bastidores, e a figura do político nem sequer aparecesse na tela? O seu rosto seria irrelevante, já que, na verdade, os gestores de campanha tentam vender uma imagem ilusória, não real, dos seus candidatos. Mas Clooney lá acaba por ganhar demasiado tempo de antena no seu próprio filme, reflectindo o que acontece com a sua própria personagem, que capitula e vende os seus princípios por uma causa maior; ser presidente. Contudo, a sua emotividade não existe. A de Gosling é trabalhada, a de Clooney não.

O filme é sobre política, o filme é sobre as pessoas que fazem política, o filme é sobre a luta de um homem entre aquilo que acredita e o seu ganha pão. Já são temas a mais, e num filme com apenas 1h40min são claramente pouco explorados. O filme acaba por ter poucas camadas, e exprimido produz pouco sumo.

Salienta-se a fantástica performance trágica de Evan Rachel Wood. Ela é a única que não tenta dar seriedade nem intensidade. Ela é a única que não parece estar a afirmar com cada fala ‘estou num drama político!’. Desse tom o filme tem a mais, mas substância tem a menos.

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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