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Dawn of the Planet of the Apes

Ano: 2014

Realizador: Matt Reeves

Actores principais: Gary Oldman, Keri Russell, Andy Serkis

Duração: 130 min

Crítica: Planeta dos Macacos. Parte 8. Uma sequela de uma prequela de uma re-imaginação de um magnífico clássico do cinema, que teve ele próprio quatro sequelas nos anos 1970. Confuso? Não fique leitor, já que para ver ‘Dawn of the Planet of the Apes’ ('Planeta dos Macacos - A Revolta', em português) não é preciso conhecimento algum dos filmes anteriores, a não ser a premissa: os macacos evoluíram geneticamente e estão próximos dos humanos e de conquistar o “planeta” (já vou explicar o porquê das aspas). De resto, o filme, ao contrário do seu antecessor directo, ‘Rise of the Planet of the Apes’ (2011) nega qualquer referência e/ou homenagem aos filmes originais e até, qualquer da sua essência. Curioso que me fez lembrar as menores sequelas de Parque Jurássico. Os dinossauros estavam lá, o enquadramento estava lá e alguns actores do filme original também. Mas simplesmente não era a mesma coisa. Faltava a chama, o rumo, a magia. Do mesmo modo aqui há macacos (exacerbados pelo extraordinário avanço da tecnologia motion capture) e há o enquadramento. Mas já não é a mesma coisa. Até os actores anteriores são despachados e substituídos por caras novas, e o filme fica muito aquém daquilo que poderia ser, e que o final do filme de 2011 prometia. Ao mesmo tempo, o filme acaba de uma forma tão vaga e tão aberta que basicamente permite qualquer rumo, qualquer linha argumental, caso a 20th Century Fox decida continuar a fazer filmes de macacos por esse século XXI fora. E a este ritmo podem fazer 50 filmes de prequela, todos estranhamente semelhantes, até chegarem finalmente aos eventos do filme original, algo que não abona muito pela qualidade desta mais recente entrada do franchise. Este pode ser o terceiro melhor filme da saga dos macacoides (a seguir ao original e ao filme de 2011), mas os restantes cinco filmes são tão maus que dizer isto não é estar propriamente a elogia-lo.

Já dei a minha opinião em pormenor sobre os filmes da saga do Planeta dos Macacos quando escrevi a crítica da aberração de 2001 ‘Planet of the Apes’, realizada por Tim Burton (pode ser lida aqui). Resumidamente, o primeiro filme, com o mesmo título, lançado em 1968 é extraordinário, misturando o então popular género de ficção científica, com o cinema de alienismo e de quebra com o sistema que os anos 1960 e 1970 trouxeram, para formar uma fabulosa e pungente sátira social. Não era a caracterização dos macacos que era importante (embora tenha quebrado convenções e vencido um Óscar Especial para Maquilhagem), nem o exotismo da mise en scene. A mestria do filme estava na sua mensagem, e na forma como essa mensagem estava envolvida num pacote intenso de acção/aventura. As quatro sequelas que se seguiram até 1973, e a subsequente série de TV, foram pouco mais que produtos de série B, destinados à família; aventurazinhas simples e pouco imaginativas, cada vez mais ligeiras em termos de tom e mensagem, que podem ter sido sucessos de bilheteira mas que envelheceram mal e deixam muito a desejar (‘Beneath the Planet of the Apes', 1970, é particularmente mau, tenho a dizer).

Saltamos um quarto de século e, produto de uma alucinação colectiva encabeçada por Tim Burton, a re-imaginação de 2001 é tão má, ou pior, que as sequelas dos anos 1970; um filme sem qualquer ideia original, inteligência ou apelo (remeto o leitor de novo para a critica, no link anteriormente mencionado). Já o filme mais recente de 2011 foi uma agradável surpresa. Esquecendo o filme de Burton, este foi às origens buscar inspiração, e o surgimento de César, o primeiro macaco inteligente, foi dado de uma forma credível e emotiva (esquecendo também os eventos recambulescos de ‘Escape From the Planet of the Apes’, 1971). O filme tinha pormenores emocionais raramente vistos em blockbusters (a personagem de John Lithgow) e convencia com os seus efeitos visuais. Particularmente, César, que tem por detrás o génio do motion capture Andy Serkis (quando é que lhe vão dar um Óscar honorário?!), estava extraordinário e vê-lo no filme é uma delícia. Brilha mais que qualquer outra personagem humana e conseguimos sentir as suas emoções todas sem que tenha de abrir a boca. Um dos poucos senãos deste filme de 2011 foi achar que sozinhos os macacos não tinham força para conquistar todo o planeta (já que acabam o filme nas florestas em redor de são Francisco) e então um vírus à la ’12 Monkeys’ foi inventado, para matar os humanos e os ajudar.

É precisamente neste ponto que ‘Dawn of the Planet of the Apes’ (realizado Matt Reeves, o homem que criou a série ‘Felicity’ e que realizou o sucesso underground ‘Cloverfield', 2008, e o remake americano do filme sueco ‘Let me in', 2010) começa por pegar. Começamos por assistir àquelas clássicas montagens de peças jornalísticas que nos permitem perceber o que se andou a passar desde o último filme. O vírus símio matou mais de dois terços da população mundial e a que sobrevive está dispersa, em colónias, num mundo perdido sem comunicações ou energia. Posto esta introdução, focamos de novo em São Francisco para nunca mais desfocar, e é curioso perceber que os macacos mantêm-se, há 10 anos, a viver em paz nas florestas dos subúrbios de São Francisco, sem qualquer contacto com os humanos e desconhecendo o que lhes aconteceu. Ou seja, por mais épico que o filme possa tentar ser, revertemos ao mesmo problema de todos os filmes anteriores, menos o original. Nomeadamente, uma cidade americana simbolizar todo o planeta. Se pensarmos bem, os macacos nunca saíram de São Francisco, ou seja, no resto do Mundo, os outros macacos não evoluíram (pois nunca tiveram contacto com César) e os humanos estão simplesmente a morrer aos magotes do vírus mais letal desde a peste negra. Quando Gary Oldman grita no final que está a tentar salvar a raça humana, não conseguimos acreditar nesse momento trágico e supostamente climático. Está a salvar, quanto muito, os habitantes de São Francisco. Lá por eles não terem comunicações com o exterior não implica que o Mundo esteja igual. São eles que não têm energia para comunicar, e não, tanto quanto sabemos, o resto do Mundo. Na Austrália, por exemplo, podem ter descoberto a cura do vírus e como não há macacos inteligentes lá, os humanos agora vivem normalmente.

Mas prontos, vamos acreditar, for the sake of argument, naquilo que o filme nos pede para acreditar. Se tentarmos aceitar a premissa até descobrimos um início de filme bastante interessante. Abandonamos os humanos por largos minutos para nos focar nos macacos e na sua existência idílica na floresta, onde César ensina as suas famosas leis e todos vivem em harmonia. Extraordinário o facto desta parte ser quase toda muda, já que os macacos apenas comunicam por linguagem gestual (só Cesar, supostamente, achava o espectador, consegue falar), e o filme é visualmente impactante e eficaz, quer no uso do motion capture, quer na forma como sem diálogos nos transmite a história. Se isto dá crédito ao realizador Matt Reeves, o problema é que quando os humanos entram ao barulho o filme vai sempre a descer.

Um grupo de humanos, onde se incluem Malcolm (o actor Jason Clarke, o nosso herói), a sua namorada, a actriz de 'Felicity', Keri Russell, e os restantes elementos estereotipados (o miúdo, o afro-americano possante e zen, e o idiota, que quer disparar a torto e a direito), a mando do líder da colónia de São Francisco (Oldman), penetram na floresta à procura da antiga central hidroeléctrica. O filme é demasiado veemente (demasiado ao ponto da incredibilidade) a tentar convencer-nos de que isto é a única esperança dos humanos para terem energia em São Francisco. Dizem-no uma. Dizem-no duas. Dizem-no trinta vezes. Não há mais fontes de energia. Nenhumas. Em lado algum. Só se conseguirem pôr aquela central, em pleno território macacoide, a funcionar, é que se salvam. E é isto…

César recambia os humanos de volta para trás falando pela primeira vez no filme. A partir daqui duas coisas acontecem. Primeiro os macacos começam a falar entre eles, o que é um pouco inacreditável, pois só passaram 10 anos. Que César fale eu acredito, visto que ele foi alterado geneticamente no primeiro filme. Que o filho de César fale eu acredito, por herança genética. Agora como é que os outros macacos em 10 anos se alteraram geneticamente para conseguir falar também? Aquele inicio mudo por linguagem gestual foi bom demais. Os produtores acharam que o público não aguentava mais legendas…

A segunda coisa que acontece é o início da discórdia entre humanos e macacos. Por mais que os humanos bons (Malcolm) e os macacos bons (César) tentem achar uma via de paz (César deixa inclusive os humanos começarem a trabalhar na central) há sempre uns pacóvios em cada um dos lados que têm medo do pacóvio do lado oposto e por isso do medo passam à ofensiva, da ofensiva à retaliação, da retaliação à vingança, da vingança à conquista. Já vimos isto antes. É assim que a maior parte das guerras se inicia. Mas no filme isto não é muito subtil. É gerado sempre por eventos algo forçados e personagens algo nervosas ou simplesmente sedentas de poder, numa linha argumental que na saga do Planeta dos Macacos já enjoa um pouco. Dentro em breve já macacos e humanos estão a armar-se para lutarem uns conta os outros numa São Francisco em ruínas, enquanto César, Malcolm e os restantes macacos e humanos bons pouco podem fazer para deter o rumo dos acontecimentos, a não ser inevitavelmente adiá-los mais um pouco…

Neste sentido, o filme tem algumas sequências de batalha fascinantes, mas que perdem o seu ritmo e pujança pois são entre-cortadas por cenas pausadas e forçadas, numa tentativa de recuperar a emotividade do filme de 2011. Isto acontece na relação de César com o seu filho ou quando César é traído e ferido e procura refúgio na casa da personagem de James Franco, que não entra neste filme e cujo destino nunca é mencionado (morreu do vírus?! E a Freida Pinto?!). Do lado dos humanos há também umas historias de base que revertem para o cliché do ‘uma pessoa que eu amava morreu do vírus’ e ‘a humanidade vai ser o que outrora foi’. Não obstante cenas belas como quando conseguem pôr um rádio a funcionar numa estação de serviço e ouvem música, o filme perde-se numa mostra de efeitos especiais e numa falta de imaginação para terminar. Depois da batalha, o filme ainda se arrasta por mais 20 minutos, com outros eventos e ramificações, sendo ora demasiado intimista ora demasiado expansivo, sem se conseguir muito bem decidir. Soa também mal que os únicos vilões assumidos, os que querem a guerra pela guerra e pelo poder, e também aqueles que geram a gota de água que faz transbordar o copo, serem sempre macacos. Gary Oldman pode formar um exército, mas o seu intuito é apenas intimidar e defender-se. Só dá ordens para avançar porque os macacos avançaram primeiro. Ou seja, há sempre uma desculpa para as más acções dos humanos, nem que seja algo forçada, e a culpa é claramente atirada para o lado dos macacos…

Mas para mim o pior foi ter-se perdido a magia na caracterização de César e a sua sedutora personalidade motion capture. O trabalho de Serkis no primeiro filme roçava o genial, e como era o único macaco inteligente o seu papel era ainda mais salientado. O filme não tinha problemas em pausar para nos envolver na sua personagem, nos seus movimentos, na sua viagem de auto-descoberta. Em ‘Dawn of the Planet of the Apes’, César está perdido no meio de dezenas de macacos caracterizados de forma superficialmente semelhante, e o filme não tem tempo para perder no seu pormenor. Há alturas até que nem se percebe qual dos macacos é César, o que é enervante.

Quando o final extremamente aberto é revelado (qualquer sequela, qualquer que ela seja, qualquer rumo que tome, é possível seguir-se a este final) o filme não é nada convincente e conseguiu estragar a mais valia do filme de 2011. Partindo de um início auspicioso, deixou-se prender pelo turbilhão de lugares comuns e ideias batidas dos restantes filmes da saga. Verdade que os efeitos especiais, e a vertente Hollywoodesca ajudam bastante (o que não se pode dizer daqueles filmes dos anos 1970), e que algumas actuações são bastante boas, como a de Serkis e a de Oldman (embora pareça uma versão de trazer por casa do seu Comissário Gordon). Mas este filme foi apenas rotina, o que aliás se prova pelo seu final desinteressado. Em nada acrescentou a esta saga. Nem em termos de cenas memoráveis, nem em termos de mensagem, nem até de efeitos especiais (o filme de 2011 era mais subtil e por isso muito mais impactante). Alias, em 'Dawn of the Planet of the Apes' há até efeitos desnecessários, como no caso dos veados e de alguns macacos (fazer em CGI é preguiça de ir filmar os verdadeiros).

Felizmente, a famosa frase ‘take your stinking paws’ não é dita, ao contrário dos filmes de 2001 e 2011. Mas, por outro lado, muita coisa que devia ser dita não é. O filme luta por ter um cunho original, o que é bom, mas não tem talento para o conseguir, o que é mau. O esforço é até algo meritório na vertente do entretenimento, mas para quem já viu tantos filmes dos macacoides como eu soa a uma desnecessária repetição. Para ver, relaxar, desfrutar do visual, bufar de impaciência pelo exagerado tempo de duração, e depois esquecer. Está na média da maior parte dos filmes da saga. É justo.

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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