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His Majesty, the Scarecrow of Oz

Ano: 1914

Realizador: L. Frank Baum

Actores principais: Violet MacMillan, Frank Moore, Pierre Couderc

Duração: 59 min

Crítica:  NOTA: Esta é a segunda de uma trilogia de críticas sobre os filmes que L. Frank Baum, o autor dos livros do ‘Feiticeiro de Oz’, produziu em Hollywood no ano de 1914, através da sua recém formada companhia Oz Film Manufacturing Company. Pode ler a introdução a este ciclo, bem como encontrar os links para as restantes duas críticas na crónica 'L. Frank Baum e a trilogia ‘Wizard of Oz’ de 1914 – introdução a um mini-ciclo de críticas'.

A apreciação geral de ‘His Majesty, the Scarecrow of Oz’ não é muito diferente da que fiz há uns dias a ‘The Magic Cloak of Oz’, do mesmo ano. De novo é um filme que demora o seu tempo a arrancar (embora com 1h e não 40min como ‘The Magic Cloak’ isso acabe por ser mais justificável), mas quando o faz transforma-se numa maravilhosa fantasia mágica para crianças, ou para todas as pessoas que, no fundo, ainda são crianças.

Mais ainda que ‘The Magic Cloak’, se não formos daquelas pessoas que ficam logo de pé atrás só porque o filme é antigo e mudo e a preto e branco, se não tivermos problemas em aceitar a alegria que este filme nos quer dar, rapidamente perceberemos que o tempo não o afectou. Quanto muito, enriquece a sua ternurenta veia nostálgica, mas não se pode acusar este filme de ser datado no sentido em que entendemos o termo. Eu tinha comparado ‘The Magic Cloak’ à ‘Rua Sésamo’ porque possuía aquele indescritível apelo das criaturas antropomórficas, mesmo sabendo perfeitamente, adultos e crianças, que estão homens dentro dos fatos. ‘His Majesty, the Scarecrow of Oz’ funciona no mesmo cumprimento de onda e até diria que o tem melhor afinado.

Talvez o motivo seja que este é o único dos três filmes que é realizado pelo próprio L. Frank Baum que, tal como todos os cineastas por esta altura, é um autodidacta das artes cinematográficas. Se pode ser singelo na escolha dos planos, não tem medo de os encher de artifícios apelativos e de contar a história visualmente. Provavelmente porque Baum conhecia tão bem a histórias e as personagens (afinal, eram suas!) não tem a necessidade que havia em ‘The Magic Cloak’ de encher o filme de intertítulos. Em vez disso, as auto-citações ocorrem apenas esporadicamente e o espectador não tem dificuldade em seguir a história pelo visual, preenchendo com a sua imaginação o que falta, incluindo as vozes, que quase podemos ouvir. Isto é, se nos deixarmos levar pelo ambiente do filme (e as crianças deixarão de certeza, desde que um adulto as incentive e as ajude!).

No início, o filme anda um pouco às voltas com a construção da sua história. A Princesa Glória de Emerald City (Vivian Reed, cuja carreira durou apenas ao longo da década de 1910) apaixona-se por Pon, o filho do jardineiro (Todd Wright, que só entrou em dois filmes, neste e em ‘The Patchwork Girl of Oz’, no papel de Feiticeiro de Oz). Mas o seu pai, o autêntico King Krewl, o maléfico Rei de Oz (Raymond Russell, outro actor do mudo que morreu aos 30 anos em 1918) não admite esta união romântica e quer antes que a princesa case com Googly-Goo (Arthur Smollet). O filme arrasta este enquadramento por cerca de dez minutos (demasiado!) até que finalmente saímos do sítio, quando o Rei decide contratar uma Bruxa chamada Old Mombi (Mai Wells, especialista em interpretar “mães chatas”) para endurecer o coração da Princesa, de forma a que ela deixe de gostar de quem quer que seja.

Entretanto, já um Espantalho num campo de trigo (Frank Moore) tinha ganho vida graças à dança de uma Índia, e Pon tinha conhecido Dorothy (Violet MacMillan), uma rapariguinha do Kansas que tinha salvo das garras da Bruxa Mombi. O mesmo fará à princesa Glória e juntos fogem, percorrendo a Terra de Oz e encontrando personagens diversas como o Espantalho, Button-Bright (um rapaz perdido interpretado por Mildred Harris – desta vez é ela e não Violet que faz de rapaz), o Homem de Lata ou o Leão Covarde. Serão estes seres mágicos, bem como o próprio Feiticeiro de Oz (J. Charles Haydon), a ajudar Pon (que a determinada altura é transformado pela bruxa num canguru!) a salvar o reino e a restituir o calor ao coração da princesa, até ao inevitável final feliz.

‘His Majesty, the Scarecrow of Oz’ é um enorme passo à frente em relação a ‘The Magic Cloak’ em termos de qualidade visual. Na crítica a ‘The Magic Cloak’ tinha escrito que os efeitos eram uma versão menor daqueles concebidos por Meliés em França, mas em ‘His Majesty, the Scarecrow of Oz’ não tenho pudor nenhum em afirmar que os truques de fotografia estão muito mais bem executados, suplantando até os do mestre francês. A maior parte são ‘cuts’ (ou seja, quando se filma o mesmo enquadramento mas com conteúdos diferentes e portanto parece que há coisas que aparecem e desaparecem quando se monta em sequência), mas estão muito bem-feitos. E depois há cenas absolutamente extraordinárias. Que dizer da cena “sub-aquática” (de novo, não deve nada aos truques de Meliés) ou da cena em que a Bruxa realmente “voa” na sua vassoura? Recordemos, estávamos em 1914! Incrível. Mas com tanta delícia visual (no contexto época, claro) continua inexplicável o amadorismo na concepção de alguns animais. Tal como em ‘The Magic Cloak’ o burro continua péssimo (acho que é exactamente o mesmo fato), e o canguru não lhe fica muito atrás. Num filme que nos permite mergulhar num mágico mundo de fantasia, mesmo um século depois, estes são os elementos mais datados e que infelizmente estragam um pouco a ilusão. Não se pode ter tudo. 

Mas como disse no início, este é um filme que, quando engata, facilmente nos faz esquecer destas falhas. Quando os animais estão sem humanos à volta e interagem uns com os outros com boas doses de jovialidade, de repente dá-se o clique. O pássaro está muito bem concebido, por exemplo, e a “dança” do Espantalho com o corvo é um momento de cinema infantil absolutamente maravilhoso. Tem aquela aura dos grandes shows televisivos para crianças (´Rua Sésamo’ o exemplo mais premente), e por isso as crianças verão certamente para além do preto e branco, para além do mudo, para além da má qualidade de imagem, e sentirão realmente a magia desta obra. Isto é, se as deixarem, se os próprios pais não deitarem essa magia a baixo só porque é antiga e de certa forma “amadora”. É antiga e amadora mas é sincera. É antiga e amadora mas nasce de bom cinema para crianças.

‘His Majesty, the Scarecrow of Oz’ é uma bem construída fantasia cinematográfica, uma incrível viagem pelo mundo da nossa imaginação e pelo fantástico mundo de Oz. Pode ser mudo e antigo e a preto e branco e todas essas coisas, mas é um filme que flui bem e que dispõe bem. E acima de tudo é um filme em que os humanos são apartes (então a famosa Dorothy, por exemplo, é figura de corpo presente) e em que os animais e as restantes criaturas mágicas é que são as verdadeiras estrelas. Esse é um dos segredos do seu encanto. Alguns funcionam e outros não, mas no geral consegue cumprir aquilo que prometeu ser: entretenimento de qualidade para as crianças. E por isso nos toca, porque concebe figuras mágicas que naturalmente se associam às nossas brincadeiras de criança, e que depois perduram, livres na nossa imaginação.

Para perceber a dimensão desta obra é só ler os entusiásticos comentários dos utilizadores do imdb; aqueles cinéfilos que se deram ao trabalho de procurar e ver este filme e que, sem o esperar, foram tocados por ele. Todos concordam que este filme é especial, que é mágico, que assinala o verdadeiro nascimento do cinema apontado para o mercado infantil e que lançaria as sementes para todos os grandes filmes e séries que nos ajudaram a crescer. Alguns até vão mais longe ao ponto de dizer que este filme é melhor que a versão de 1939 com Judy Garland. Bem, eu não diria tanto, mas num ponto estou inteiramente de acordo. Digamos assim: este será certamente um dos primeiros filmes mudos que o meu filho verá, quando chegar a idade de lhe começar a mostrar estas coisas. E não tenho dúvidas nenhumas que nos vamos divertir imenso. 

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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