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The Magic Cloak of Oz

Ano: 1914

Realizador: J. Farrell MacDonald

Actores principais: Mildred Harris, Violet MacMillan, Fred Woodward

Duração: 38 min

Crítica: NOTA: Esta é a primeira de uma trilogia de críticas sobre os filmes que L. Frank Baum, o autor dos livros do ‘Feiticeiro de Oz’, produziu em Hollywood no ano de 1914, através da sua recém formada companhia Oz Film Manufacturing Company. Pode ler a introdução a este ciclo, bem como encontrar os links para as restantes duas críticas na crónica 'L. Frank Baum e a trilogia ‘Wizard of Oz’ de 1914 – introdução a um mini-ciclo de críticas'.

Hoje talvez seja difícil para o leitor acreditar que um filme como este; um infantil, singelo e por vezes ingénuo filme mudo de 1914, possa ter algum apelo. Mas tem. O filme acaba por ser um produto até bastante interessante, senão para os adultos (principalmente os adultos mais cépticos terão dificuldade em entrar na onda desta obra – afinal, o cinema estava a começar), mas pelo menos para as crianças. Aliás, o filme está inteiramente centrado nelas e a percepção magnífica que possui daquilo que lhes poderá apelar ou não – percepção essa que seria certamente a do próprio Baum – comanda toda a obra.

Com apenas 38 minutos (o mais pequeno destes três filmes) ‘The Magic Cloak of Oz’ demora contudo o seu tempo a arrancar. O início é fraco, porque se arrasta lentamente e possui uma enorme quantidade de intertítulos. A vantagem é que citam o livro, pelo que têm interesse por si ao possuírem uma linguagem engraçada e infantilmente poética. A desvantagem é que, nesta ânsia de seguir o livro de perto, a imagem existe apenas para ilustrar os intertítulos e não vice-versa, como deveria ser.

Deste modo, assistimos como as fadas da Terra de Oz concebem o manto mágico do título; um manto que dá a quem o usa (desde que não o tenha roubado) a possibilidade de satisfazer um desejo. As fadas decidem dar o manto a dois pequenos irmãos órfãos, Bud e Fluff. Bud tem a curiosidade de ser interpretado por uma rapariga, Violet MacMillan, que entraria nestes três filmes em papéis diferentes, incluindo ser Dorothy em ‘His Majesty, the Scarecrow of Oz’. Já Fluff tem a particularidade de ser interpretada por Mildred Harris, então com 13 anos de idade, uma famosa child star desta década e que apenas quatro anos depois se tornaria a notória primeira mulher de Charles Chaplin


Só depois da história e das personagens se estabelecerem neste tom inseguro é que o filme relaxa um pouco e deixa de ter medo de se centrar naquilo que se deveria ter centrado desde o início; na sua vertente de conto de fadas. Fluff e Bud só desejam ser felizes e uma série de acasos colocam-nos no trono da terra de Noland, onde se divertem sem grandes responsabilidades e comprando muitos brinquedos para o palácio (uma moral algo dúbia, não?). Contudo um exército de seres roliços quer invadir o reino (em busca de sopa!) e uma bruxa procura uma oportunidade para ficar com o manto para si. Mas será que um grupo bem-intencionado de animais, incluindo um burro e o Leão Covarde, conseguirá salvar o dia e vingar-se daqueles que tentaram raptar o próprio burro?

Nesta parte, os intertítulos tornam-se cada vez mais esporádicos e o filme torna-se muito mais ousado em termos visuais, o que é óptimo para o espectador. Destaca-se um, para a época, excelente guarda-roupa, um ou outro efeito visual interessante (obtido com truques de fotografia, como é óbvio) e, principalmente, a magia que se consegue criar a partir dos animais. Não será preciso dizer ao leitor que vemos perfeitamente que está um homem dentro do fato de cada animal. Principalmente o burro, o animal que acaba por ter o maior protagonismo na história, tem um fato tão pobrezinho e o actor dentro dele (Fred Woodward) tem tanta dificuldade em ser convincente (e até em andar em quatro patas!), que não existe um pingo de fantasia nesta personagem. Mas quando todos os animais se juntam na floresta para urdir o seu plano, e não há um único humano em vista, de repente faz-se magia. É o mesmo tipo de ilusão que existe por exemplo na clássica ‘Rua Sésamo’, uma ilusão simples e engraçada que não precisa de ser muito elaborada, só precisa de ser sincera. E aí até perdoamos o amadorismo do burro. Porque se cria um universo à parte onde todos são assim, como bonecos de trapos antropomórficos saídos directamente da nossa infância e que captam a nossa imaginação. Pelo breve tempo que dura, é suficiente.

Nesta constatação está a grande valência de ‘The Magic Cloak of Oz’. Aliás, o maior elogio que se pode dar ao filme é que, praticamente sem tirar nem pôr, sem qualquer tipo de melhoramento da qualidade de imagem, sem qualquer modernização da história, poderia ser mostrado a uma criança de hoje e resultar, ser bem sucedido a cativá-las e a conseguir colocar-lhes um sorriso no rosto. Só não me atravesso na questão do som. Com música adequada na banda sonora (a versão que vi não tinha esse luxo) e quiçá com um adulto ao lado a acompanhar a história, fazendo as várias vozes das diferentes personagens, o filme poder-se-ia transformar numa daquelas obras icónicas de muitas infâncias. É uma pena que falte esse bocadinho, mas ao mesmo tempo pode ser que, por causa disso, possa originar bons momentos em família. Se os pais fizerem as vozes dos animais para compensar a mudez do filme para deleite dos seus filhos, não estão aqui as bases para um grande, didáctico e lúdico tempo de qualidade em frente da TV?! Estão sim.

Por todos estes motivos ‘The Magic Cloak of Oz’ é um filme simples mas que chega a surpreender. Pode não ser muito distinto dos outros dois feitos no mesmo ano ao ponto de o salientarmos na nossa memória, mas cada visualização trará novos motivos de interesse, nem que seja pela inventividade da imaginação do próprio Baum. Aliás, estes filmes podem ser vistos como a maior aproximação americana das fantasias que Meliés estava a fazer em França. E se em termos de efeitos visuais ‘The Magic Cloak of Oz’ está abaixo do trabalho do mestre francês, é claramente mais forte em termos da história que os acompanha. Não fosse esta fantasia baseada no trabalho do guru das fantasias infantis do início do século XX. Não fosse este mundo recriado a mágica terra de Oz, o lugar onde a nossa imaginação reina. E por o ser, não é preciso um único efeito especial. É só preciso ter uma mente aberta e o coração de uma criança.

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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