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The Broadway Melody

Ano: 1929

Realizador: Harry Beaumont

Actores principais: Bessie Love, Anita Page, Charles King

Duração: 100 min

Crítica: 1929 foi um ano seminal no Cinema. Foi o ano em que apareceram os ‘talkies’, ou seja, os filmes sonoros! E, não sabendo ainda como o público iria reagir ao novo meio, os estúdios apostaram principalmente em 3 géneros de filmes sonoros: as adaptações de bem sucedidas peças de teatro, filmes realizados por mestres que usaram o som esporadicamente para efeitos dramáticos/artísticos (‘Blackmail’ de Hitchcock; ‘Sous le toits de Paris’ de Rene Clair) e musicais à la Broadway. E foi este último género que imediatamente singrou.

‘The Broadway Melody’, versão de 1929, foi o primeiro filme sonoro da poderosa MGM e, tal como ‘Jazz Singer’ da Warner Bros., foi um sucesso imediato. Não só ‘Broadway Melody’ ganhou o Óscar de Melhor Filme na segunda edição dos Óscares, tornando-se o primeiro filme sonoro a fazê-lo (a primeira foi ganha por ‘Wings’, um filme mudo, cuja crítica pode ser lida aqui), como seria um enorme sucesso de bilheteira e um dos primeiros filmes a gerar sequelas (as ‘Broadway Melodies’ de 1936, 1938 e 1940, esta última a melhor, com fantásticos números de dança de Fred Astaire). Contudo, foi um filme que não envelheceu bem. Hoje em dia parece extremamente datado. Pouco tempo depois, filmes como ‘42nd Street’ (1933), os vários filmes ‘The Gold-Diggers’, todos os espectáculos visuais de Bugsy Berkley, os filmes de Fred & Ginger, e as acima referidas sequelas de ‘Broadway Melody’ elevaram a fasquia do ‘musical de palco’ a um nível tão elevado que até aos dias de hoje o Cinema não voltou a ver nada de semelhante. Portanto, em comparação, o primeiro ‘Broadway Melody’ parece muito tímido e pálido. Visto hoje o filme nada mais parece que um mero teste dos conceitos cinematográficos que estavam à espreita ao virar da década.

Como se tornaria norma, o contexto do filme é o mundo do espectáculo teatral. Isto tornou-se a desculpa usual para mostrar rotinas de música e de dança, protagonizadas pelas personagens principais do filme, não só durante o espectáculo em si (geralmente o final do filme), mas em todos os ensaios que nos levam até lá. E para balançar, o ‘drama’ do filme é dado pelas novelas de bastidores, as intrigas, os romances, os confrontos de egos. Até ‘Glee’ nos dias de hoje segue esta fórmula. Mas foi aqui que tudo começou.

Infelizmente, este filme acaba por ter muito poucas rotinas de dança. Há cerca de quatro num filme que tem 100 minutos, o que é muito pouco. Para além disso, todas elas tem pouca espectacularidade e grandiosidade. Qualquer pessoa que já viu um filme da década de 1930 com rotinas coreografadas por Bugsy Berkley vai achar as rotinas deste filme extremamente insossas. Mesmo assim, temos de contextualizar as coisas. O som estava numa fase experimental, e a colocação dos microfones bem como o facto de as novas câmaras serem muito pesadas impossibilitava grandes aventuras em termos de planos. Pelo que apresentou, na altura em que o apresentou, ‘Broadway Melody’ merece muito respeito.

As rotinas de música e de dança são literalmente encaixadas numa história muito simples e pouco interessante, que basicamente se repete ad aeternum até ao filme terminar. Duas irmãs, Queenie e Hank (interpretadas respectivamente por Anita Page and Bessie Love), são uma dupla de sucesso nas pequenas cidades americanas. Contudo, decidem abandonar esse circuito, garantido mas de pouca visibilidade e com pouca capacidade de alguma vez as tornar famosas, e dirigem-se de malas e bagagens até Nova Iorque, para tentar a sua sorte na Broadway. Mas não precisam de se esforçar muito. Isto porque uma das irmãs, Hank, está noiva de uma grande estrela (então está noiva dele mas anda a fazer espectáculos em pequenas cidades e ninguém sabe que ela existe? Muito estranho). Essa estrela, Eddie (interpretado por Charlie King), facilmente lhes arranja um lugar no coro do seu espectáculo, muito embora a audição das irmãs seja um fiasco (mas em sua defesa não por culpa delas). Só por isto o leitor já pode aperceber-se o quão trabalhado foi este argumento…

Uma vez parte da companhia, o filme divide o seu tempo entre os ensaios e o triângulo amoroso que se forma entre Eddie e as duas irmãs. Isto porque conhecendo Queenie, Eddie (e todas as outras pessoas aparentemente) apaixonam-se imediatamente por ela, e parecem esquecer-se que Hank existe, muito embora Hank tenha muito mais talento. Queenie tem medo de magoar a irmã, por isso afasta-se e decide capitular aos avanços do produtor, um ‘ladies man’ má rés. Como se não bastasse, Hank passa a discutir constantemente com ela, porque não entende o que Queenie pode ver num homem tão fútil e que anda com muitas mulheres ao mesmo tempo. Este dilema de Queenie, o facto de ela não poder dizer à irmã que Eddie anda atrás dela, é o ‘drama’ do filme e, como mais uma vez o leitor já notou (isto se ainda está a seguir esta descrição) é uma patetice.

Eddie é uma das personagens mais asquerosas que já vi num filme, mas o que mais me choca é que o filme o trata como um tipo simpático, como uma das personagens ‘boas’. Noivo de uma irmã, tenta fazer-se à outra, mas o filme não parece ver nada de errado nisto. E depois, o filme passa a retratá-lo como um herói, isto porque ele tem uma luta de punhos (que perde, note-se) com o mau produtor, numa tentativa falhada para que ele deixe Queenie em paz. Quando Hank descobre a dupla verdade, imediatamente, e sem qualquer remorso, diz a Eddie que nunca gostou dele, que estava só a divertir-se, e abre alas para que ele fique com a sua irmã. Eddie, ao ouvir isto, também não hesita um segundo, nem agradece, acredita piamente na mentira que ouviu, vira-se ao contrário e vai a correr direitinho para Queenie. E, mal acaba de casar com ela, a câmara capta o seu olhar imediato para uma nova rapariga gira que passa à sua frente. Como é que é possível o filme considerar isto tudo normal? Comportamentos sexistas da década de 1920? Como é que este tipo é o herói romântico do filme? Ultrapassa-me.

E Hank, pobrezinha, a menina com o maior talento, acaba o filme a apanhar o transporte de volta para as cidades pequenas, com pouca esperança de voltar para a Broadway e de alguma vez ter sucesso. Enquanto isto, Queenie, por causa do seu aspecto físico, e por ser casada com uma grande estrela, inicia uma gloriosa ascensão pela Broadway, até ao firmamento da fama. Se isto ainda tivesse alguma pinga de dramatismo eu compreenderia. Seria uma lição de moral. Mas não. Este é um filme leve, e este final é dado como um ‘tudo está bem quando acaba bem’. Portanto, qual é a sua moral? Se formos bonitos e roubarmos o noivo à irmã seremos grandes estrelas? Só pode

Tal como muitos filmes desta altura, as actuações são um pouco desajeitadas (só Bessie Love, como Hank, brilha). Do mesmo modo, o estilo de filmagem e a falta de capitalização devida das grandes sequências de música e dança revelam uma grande inocência e ingenuidade, óbvia consequência da falta de experiência cinematográfica nesta matéria. A única coisa que praticamente não é desculpável é este argumento chauvinista. Mas de resto é preciso, de certo modo, tirar o chapéu a este filme. Criou o género, estabeleceu a fórmula. É ingénuo. É desajeitado. Mas deve ter sido uma coisa incrível quando surgiu. E se mais nada, possui a importância de ser o primeiro musical alguma vez feito, um género que é um dos meus preferidos e que produziria das melhores peças cinematográficas da história, e deuses como Fred Astaire, Gene Kelly, Ginger Rogers, bem como todos os filmes de Jacques Demy!

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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