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Kung Fu Panda 2

Ano: 2011

Realizador: Jennifer Yuh

Actores principais (voz): Jack Black, Angelina Jolie, Jackie Chan

Duração: 91 min

Crítica: Em 2011 o Panda estava de volta para, usando um estrangeirismo, “kick some ass”! O original ‘Kung Fu Panda’ datava de 2008 e, com excepção dos filmes do ‘Shrek’ (o grande money-maker da Dreamworks durante os anos 2000), havia sido o maior sucesso deste estúdio de animação. Com um orçamento de 130 milhões de dólares, havia arrecadado mais de 630 milhões na bilheteira mundial. Mas não foi só na bilheteira que este filme foi um sucesso. Para mim, ainda hoje, o original ‘Kung Fu Panda’ é uma das melhores comédias animadas por computador da Dreamworks, surpreendentemente boa, com um visual fantástico, um argumento hilariante e uma história que, apesar de se estruturar de uma forma completamente estereotipada, conseguia cativar.

Para além do mais, o original ‘Kung Fu Panda’ tinha ainda outro trunfo: Jack Black, o homem (the man!). Como Po, o Panda gordo que se torna um mestre do kung-fu (quase) por acaso, Jack Black é uma explosão de energia e humor, que os animadores conseguiram ilustrar na perfeição. Contudo, tirando o papel relevante do mentor Shifu (voz de Dustin Hoffman), as restantes personagens secundárias eram algo pobres, apenas presentes pela sua contribuição visual (apelo infantil) e mediática (as estrelas por detrás das vozes), e não propriamente pelos seus contributos para o argumento. Se repararmos bem, as personagens de Tigress (voz de Angelina Jolie), Monkey (Jackie Chan), Mantis (Seth Rogen), Viper (Lucy Liu) e Crane (David Cross) que constituem os “5 furiosos”, têm pouco mais de meia dúzia de frases cada um no primeiro filme. Mas não faz mal. A brilhante animação, as piadas, o humor visual, e o fio condutor de Po, embalado pela energia e a enorme capacidade de improvisação de Jack Black, mais que compensavam. E isso é que era bom acerca de ‘Kung Fu Panda’.

Infelizmente, na era moderna, o que é bom e faz dinheiro nunca é deixado a envelhecer sossegado, para se tornar um clássico. Em vez disso é abafado por uma catrefada de sequelas que desvirtuam o filme original, e fazem esquecer, no imaginário do cinéfilo, o quão bom esse filme original realmente é. E a Dreamworks, lamento dizer, é a especialista número 1, no reino da animação, dessa asfixia proporcionada pelas sequelas. Entre 2008 e 2011, altura em que lançou a sequela de ‘Kung Fu Panda’, a Dreamworks, o mais prolífero estúdio de animação da actualidade (neste momento têm um ritmo de 2-3 filmes por ano), fez cinco filmes. Três deles originais: ‘Monsters vs. Aliens’ (2009), ‘How to Train Your Dragon’ (2010) e ‘MegaMind’ (2010), mas a triste realidade é que nenhum deles fez, nem de perto nem de longe, tanto dinheiro como as duas sequelas que o estúdio lançou neste mesmo período: ‘Madagascar: Escape 2 Africa’ (2008) e ‘Shrek Forever After’ (2010). É preciso dizer mais? Na viragem da década, a Dreamworks apostou no seu espólio passado para o rendimento futuro. Em 2012 lançaria o terceiro Madagascar, ‘Europe’s Most Wanted’, e 2011 veria o spin-off de Shrek, ‘Puss in Boots’ bem como o segundo Panda, realizado pela estreante sul-coreana Jennifer Yuh, que havia feito parte do departamento de animação do primeiro filme e de outras obras da Dreamworks como ‘Spirit: Stallion of the Cimarron’ (2002) e ‘Madagascar’ (2005).

Quando vi o filme no cinema, nesse Verão de 2011, escrevi a seguinte frase: “este segundo filme segue o mesmo tipo de estrutura geral do primeiro filme, com a diferença de que a personagem da Angelina Jolie tem muitas mais linhas de argumento”. E isso parece-me, quase quatro anos volvidos, um correcto encapsulamento da essência de ‘Kung Fu Panda 2’. O filme é uma repetição das temáticas e das piadas que no primeiro filme resultavam e (mais importante do que isso) eram frescas, com a capitalização da popularidade de alguns elementos intrínsecos. Po poder-se-ia ligar a qualquer um dos cinco furiosos, mas liga-se precisamente à Tigresa. Não será por Angelina Jolie estar no seu pico de popularidade por esta altura? Parece óbvio.

Mesmo assim, o leitor que não se deixe enganar. ‘Kung Fu Panda 2’ ainda tem que se lhe diga. Jack Black nunca deixa de impressionar com a sua vitalidade, e o humor visual, embora inferior ao do primeiro filme, continua hilariante. Pode-se citar a magnífica cena em que o Panda tenta “infiltrar-se silenciosamente”, ao seu estilo trapalhão, ou a cena em que ele tenta fazer o clássico discurso motivacional às massas, só para se aperceber que está demasiado longe! Não é totalmente original (recordo-me do início de ‘Life of Brian’, 1979, dos Monty Python), mas são momentos que mandam a sala de cinema a baixo com riso. E para que outra coisa, senão para nos rirmos, vamos ver um filme destes? Pela história? Bem, se assim é o leitor não está com sorte. A história é sempre um dos piores pontos deste tipo de filme, e em ‘Kung Fu Panda 2’ isso não é excepção.

Até podemos desculpar uma história menos conseguida se o humor compensar. Mas o filme, neste departamento, faz uma desfeita ainda pior ao espectador. Na primeira cena, o prólogo, o filme conta ao espectador o segredo que Po passa o filme inteiro a tentar descobrir. Isto faz algum sentido? Eu, como membro da assistência, e detentor de todo o conhecimento, não consigo desta forma ficar surpreendido, nem impressionado, nem em tensão, com os vários momentos dramáticos pelo qual o filme passa. Porquê? PORQUE JÁ SEI O SEGREDO! Quando Po descobre a verdade, no final do filme, eu já a sei há uma hora e meia. Em vez de fazer a odisseia do filme ao lado de Po, estou na linha da meta a apanhar uma seca, à espera, sem grande emoção, que ele lá chegue. Não é muito cativante.

Basicamente, há muitos, muitos anos, um velho vidente leu a sina a um pavão maléfico de nome Shen (fantástica voz de Gary Oldman), herdeiro do trono da China e com um fascínio por armas (aparentemente foi ele que descobriu a pólvora e inventou o canhão). Essa sina dizia que, por mais que Shen conquistasse, iria um dia ser derrotado por um Panda. Na boa tradição bíblica, Shen dá então a ordem para que todos os Pandas sejam mortos, e só o pequeno bebé Po consegue escapar ileso (não tão fofo como o bebé Puss in Boots, mas suficientemente fofo!). Para todos aqueles que no primeiro filme acharam estranho que Po fosse filho de um ganso (algo que nesse filme nunca é explicado) aqui está a resposta. Vá lá, é minimamente credível!

Agora, passados todos estes anos, Shen está de volta (havia sido exilado pelo seu acto) para conquistar o mundo, ou pelo menos a China. Os guardiões da paz, os guerreiros do reino, por mais kung fu que saibam, não conseguem, inicialmente, fazer frente ao poderio de Shen, dos seus canhões e da sua pólvora. O filme dedica-se então exclusivamente a mostrar-nos como é que os cinco furiosos, liderados por Po e inspirados pelo seu mentor Shifu, conseguem eventualmente salvar o mundo, ao mesmo tempo que Po tenta desvendar os enigmas do seu passado, e o papel que Shen desempenhou nele. Os tais segredos que o público já sabe desde o início. Neste departamento, nada de novo. Po tem de encontrar a sua “paz interior” para conseguir ajudar os seus amigos, derrotar o mau e ser o herói do dia, e só o conseguirá se abraçar o seu passado e a vida que tem no presente, com os amigos, a sua família adoptiva e claro, a sua paixão pelo kung fu. Não sei se estes valores de trazer por casa apelarão às crianças, mas os adultos não vão ligar a nada disto, nem mesmo na climática cena de acção. Só as piadas cativarão um público mais exigente, mas felizmente, há piadas, cor e animação de sobra.

Mesmo assim, acontece a mesma coisa que eu detesto ver em filmes modernos: o escolhido é o escolhido só porque sim. Ninguém aprendeu as lições dos clássicos filmes do herói escolhido (como Star Wars) e o cinema moderno, através de coisas como os ‘Harry Potters’ ou as recentes distopias futuristas de adolescentes, distorceu completa e preguiçosamente este conceito. Agora há sempre um “herói escolhido” ao qual todas as coisas vão parar ao colo, sem que o dito cujo tenha sequer que se esforçar por isso. O mesmo acontece em ‘Kung Fu Panda 2’. O filme está cheio de mestres do kung fu, que treinaram durante anos e que, o filme prova uma e outra vez, lutam bem melhor do que Po. Mas todos os mistérios dessa arte (tal como o ‘dragon scroll’ no primeiro filme) são oferecidos de bandeja a Po, só porque ele é… O ESCOLHIDO! Que moral é que existe numa coisa destas? Que um Panda gordo e preguiçoso, só porque o cosmos quis, fica com toda a glória e salva o dia, enquanto os outros, os que treinam e se dedicam e se sacrificam, não conseguem fazer nada? Porque é que a Tigresa, por exemplo, não consegue encontrar a ‘paz interior’, por mais que se esforce? Porque é que não consegue domar as gotas de água? Não é por falta de qualidade, esforço ou dedicação. Caramba, a mulher está a treinar há 20 anos e mesmo assim não consegue. É simplesmente porque o filme não quer, e porque se chama ‘Kung Fu Panda’ e não ‘Kungu Fu Tigress’. Em vez disso, o panda, que passou esses mesmos 20 anos a comer em vez de treinar, sem grande esforço real (embora o filme faça algum espalhafato) lá domina as gotas de água, lá encontra a ‘paz interior’, lá salva o dia. Maravilha. É este tipo de coisas que supostamente inspiram as crianças, mas que quando esmiuçadas, não oferecem uma grande mensagem. As coisas não chegam a quem se esforça por elas. Chegam aos ‘escolhidos’. Os outros não têm hipótese, por mais que tentem e por melhores que sejam…

Tirando este pequeno grande pormenor, há que ser sincero e dizer que ‘Kung Fu Panda 2’ foi, mesmo assim, um dos melhores filmes animados por computador do ano de 2011. Bem melhor que os concorrentes ‘Rio’ do Blu Sky Studios, e o péssimo ‘Cars 2’ da Pixar, mas talvez não tão bom como o outro filme da Dreamworks desse ano ‘Puss in Boots’. O filme é claramente um passo abaixo relativamente ao primeiro ‘Kung Fu Panda’, porque a sua história está um passo abaixo, mas há ainda qualidade suficiente no que é apresentado para oferecer uma grande experiência visual (embora não tenha apreciado muito o efeito 3D quando vi o filme no cinema) e acima de tudo uma grande experiência cómica. O Panda é realmente uma personagem engraçada e pelo menos aqui ainda não perdeu o gás.

Por um lado isto é bom e reflecte-se no sucesso crítico e financeiro do filme. A partir de um orçamento de 150 milhões de dólares rendeu 666 milhões. Por outro isso quer dizer que ‘Kung Fu Panda 3’ está já ao virar da esquina, e recentemente tivemos a confirmação de que chegará às salas em Março de 2016. Mas já no próprio ‘Kung Fu Panda 2’ se antecipava esta sequela. A última cena, tal como a primeira, estraga a experiência do espectador ao terminar a história em suspenso e dizer ao público que haverá, mais cedo ou mais tarde, um terceiro filme. E sem surpresas agora aqui está ele oficialmente anunciado. Andamos a ver isto em demasia no cinema. Filmes que não são convenientemente terminados, filmes que se preocupam mais em construir a história que está para vir do que propriamente em focarem-se no produto actual e fazerem um bom trabalho. Rodriguez fez isso em ‘Machete 2’. Besson fê-lo em ‘Arthur and the Minimoys 2’. E os senhores da Dreamworks fazem-no também em ‘Kung Fu Panda 2’. Muito bem que se preocupem com o futuro. Mas não o deviam fazer às custas do presente. Um segundo filme tem obrigatoriamente de abrir a porta a um terceiro? Chantagear emocionalmente o público a comprar um bilhete daqui a um ou dois anos é o que mais há no cinema americano actual. E isso repugna-me. Um filme não é um entreposto para outro filme. Um filme é um filme e tem de valer como tal.

Se ‘Kung Fu Panda 3’ for um sucesso para o ano, certamente aparecerá o 4, e o 5, e o 6. É como ‘Toy Story’. A falta de imaginação aliada à perspectiva de carradas de dinheiro fácil já levou a Pixar a anunciar o quarto filme para 2017. Nos anos 1990, ao menos havia o bom gosto de lançar as sequelas de animação directas para VHS ou DVD (‘Land Before Time’ – Em Busca do Vale Encantado, chegou às treze!!!). Agora vai tudo parar ao cinema. Mas independentemente da quantidade dos Kung Fu Pandas que já tiverem havido quando formos todos velhos e caquécticos, vale sempre a pena recordar o quão bom é o primeiro de todos, datado de 2008. Isso sim é uma comédia de animação para crianças e adultos. Agora os outros, ou pelo menos ‘Kung Fu Panda 2’ vive maioritariamente às custas dessa qualidade. Aqui, felizmente, a chama ainda não se esgotou, o que é um grande ponto a favor desta sequela. Agora por quanto mais tempo se manterá essa chama viva? O suficiente para sobreviver até Março de 2016? Vamos esperar para ver…

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Miguel. Portuense. Nasceu quando era novo e isso só lhe fez bem aos ossos. Agora, com 31 anos, ainda está para as curvas. O primeiro filme que viu no cinema foi A Pequena Sereia, quando tinha 5 anos, o que explica muita coisa. Desde aí, olhou sempre para trás e a história do cinema tornou-se a sua história. Pode ser que um dia consiga fazer disto vida, mas até lá, está aqui para se divertir, e partilhar com o insuspeito leitor aquilo que sente e é, quando vê Cinema.

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